terça-feira, 14 de dezembro de 2010

terror na favela calor no asfalto e o rio de janeiro continua lindo em dezembro

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A PEDRA MONUMENTAL

o quarto
ensolarado... as paredes brancas... as peles claras... os lencóis lavados...
espaços à espera de ocupação.
estou acampado
caminho no campo minado sem medo da explosão

lá fora
as pequenas jabuticabas ainda flores...
a língua quente de café
meu corpo curioso
pra sentir o próximo toque
ver se dá certo
se faz tremer e gostar

lá dentro
os livros á venda prometem futuros...
é só escolher
esqueça o título
atente a cor da capa
decida pelo número de páginas e arranque a que mais gostar
corra o risco de roubar e ser pego
te espero na porta pronto pra correr
a barriga doendo de tanto rir
a fuga. o beijo.................... o gosto que sobrou na boca

meninos
brincam de cabana
-bom é esconder e achar dentro do quarto, lá dentro, lá fora e no peito
onde você aparece e some
onde corro atrás das pistas que você deixa só pra me enganar
onde mora o desespero de fixar o olhar na sua figura
e chega o momento adiado onde acaba a história

sozinho
fico parado naquele espaço
onde a pista de mão dupla dividiu a pedra monumental
vejo no alto do tunél santa bárbara duas palmeiras imperiais
tudo aqui é distância
e o barulho dos automóveis e suas buzinas
amplificam a minha solidão

PRESENTE

corajoso, não se cansa
mergulha perto dos rochedos
mergulha sem medo
afunda mais
até a maré levar
oxum, yemanjá, yansã vieram aceitar
é do amor que elas gostam
esquecem perfumes, jóias, espelhos e pentes
esquecem os presentes
lembram apenas de ninar
o profundo amor que adormece
esperando você acordar

CUIDADO: ESSA PAGINA CONTEM ERROS GRAVES DE PORTUGUÊS E DIGITAÇÃO

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O CASAMENTO DE JULIA

Julia vai casar
mas não é ela quem sobe ao altar
em dias de felicidades
todo egun vem festejar
meu avô, irmão de Julia
bebe entre os convidados, ri dos desesperados invejosos misturados aos alegres que levantam a todo instante as taças de champagne
tudo é reunião
tudo é ritual
Julia queria que a aliança fosse mais que de ouro
fosse mais que a simples jóia
ela queria a fusão
a transformação dos olhos
e o corpo preparado pro salto e a queda
e a própria vida rindo da morte
julinha morreu de tuberculose
dias antes do casamento
era AMOR
o peito atolado de amor
não resistiu
e a noiva desapareceu
meu avô contava
e ninguém percebeu a dor nos olhos verdes
a voz que diminuía
o silêncio que revelava
eu sei
e vejo Julia no altar
pronta pra casar
sem dor nem mágoa
julia não é fantasma
é a flor do buquet
as gotas de água benta
é o corpo e sangue de cristo
é o meu próprio sangue
é a brisa fresca e o perfume entre os convidados
e esse humilde rabisco apaixonado
querendo mais uma vez amar

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

HAPPY BIRTHDAY TO YOU

vou fazer a marilyn
mas não pense em gírias
pense sim
vou fazer
monocromática
lisérgica
cosmococainômana
preto e branco
barbitúrica
pálida de lábios hirtos
vou faze-la
cheia de cicatrizes
cantando happy birthday
amada despida usada
cantando desafinada
tudo na mesma noite
tudo no mesmo corpo
tudo no mesmo copo
água
whisky
pastilhas em pedaços
bolhas de champagne
vou fazer a marilyn dançando
querendo agarrar um milionário
sentindo o vento levantar minha roupa
vou faze-la em pedaços
repetida até a exaustão
até acabarem as tintas
até acabar
vou fazer...
os pecados
até a tinta amarela do cabelo escorrer
manchar o rosto
sujando a testa
molhada de suor
borrar o rimel
desmaiada de torpor
e no segundo que antecede a morte
arrisco um biquinho
paralizo na pose
na esperança de ser
eternizada por você

quinta-feira, 13 de maio de 2010

POEMA

queria ser o poeta que sem esforço abre a boca e solta língua
aqui existe um trabalho penoso
o pensamento move-se lento e embaraçado
as palavras são poucas e parece que nunca foram escritas
nunca foram lidas
vividas
faltam tantas palavras
e a poesia inútil cresce
as melhores imagens desaparecem
exatamente quando a caneta se agita
e tudo é solidão
nada faz companhia
falta lua
falta namorada
faltam rimas pras madrugadas
pros segundos largos ocupados pela insônia
marcada no tic-tac do relógio
tédio mal-assombrado
se o poema pelo menos se revirasse na tumba
e viesse como os fantasmas da infância puxar os meu pés
eu gritaria
felicidade assustada de criança que ganha um presente inesperado
abriria um vinho mesmo sendo cafona
assumiria o risco de ser abandonado
e se ele curtisse e ficasse encostado
assoprando na minha orelha
como espírito desencarnado
eu abriria todos os sentidos
e por ele escreveria a bendita oração
a história esquecida
reviveria o amor inacabado
e se ele invadisse o meu corpo e me fizesse dançar
eu entregaria minha cabeça
e os atabaques tocariam xire de orixá
e meu giro descalço de olhos fechados seria o próprio poema
e nenhuma palavra precisaria ser dita

terça-feira, 4 de maio de 2010

À CRIATURA SEM ESPELHOS

me diz: quem foi a medusa que lhe transformou?
ela fez sua cara ser feia?
nasceu assim ou é puro amargor?
suas presas imprestáveis,
inveja e despeito inigualáveis
seus líquidos inúteis
de quem herdou?
sua saliva que a ninguém mata a sede
seu sangue que não alimenta
orixá, egun ou exu
e seus olhos arregalados
são de quebranto, medo ou rancor?
responda-me, criatura!
e quem lhe tem amor?

sábado, 24 de abril de 2010

INOCÊNCIA

angústia disfarçada de amor
fez com que ele se declarasse ao antigo namorado
pegou o telefone
e sem pausa falou tudo que circulava confuso no peito
contou sobre os últimos acontecimentos
as contas a pagar
dentes cariados que teria que arrancar
viagens que sonhava fazer
planos de fuga

do outro lado da linha
no outro ponto da história
o "piu-piu", lindo, loiro
de cueca samba-canção
pau grande balançando
cara amassada e boca fedida de sono
apenas ouvia
olhos azuis arregalados
refletindo um outro olhar desesperado
lágrimas do início ao fim
do outro lado da linha um tango tocava
bate o telefone
coração acelerado
desiste do presente, projeta o futuro no passado
olha no fundo dos olhos negros desesperados ao seu lado
e põe um ponto final no amor mal terminado

a menina que a poucos minutos dormia ou fodia
joga calcinhas e pequenos objetos
na bolsa, bate a porta e sai
desce as escadas, doida pelo tropeço
querendo rolar, despencar
com toda força que a lei da gravidade permitir
nenhum desejo é atendido
não existe em seu corpo coragem que permita tais movimentos
pega o ônibus
duas horas rodando
o céu querendo ser outro, mudando
brilha
acinzenta
chove
brilha em dois arco-iris
ela vê no campo ao lado da estrada
mais de cinquenta urubus abrindo em coro suas asas
e mirando os arco-iris
não dorme impressionada com o estranho festival
mal agouro ou sorte?
chove e clareia antes do temporal

em casa encontra o bebê "piu-piu" dormindo de pijama
a babá também dormindo, babando na cama
-o sono é sempre inocente e não sabe do movimento que a vida faz
toma um comprimido e beija o anjinho antes de dormir em paz

o menino "piu-piu" amarelinho
loirinho como o pai
acorda assustado de pesadelo
chora até cansar
pula o berço
anda pela casa movida pelo silêncio
brinca com o fogão
vê a curiosidade dos seus olhos azuis
refletida no brilho das facas
tenta enfiar o dedo em muitas tomadas
e sem querer liga o ferro de passar...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

RUPNOL NA VEIA, RIVOTRIL EM MIM (o último romântico)

pediu mais uma garrafa de cerveja
bebeu num gole só
pediu outra
bebeu numa sede alcóolatra de quem foi abandonado
gastou o que não tinha
arrancou do bolso as moedas do mercado
subiu o morro animado
continuou até o bolso não aguentar

a cabeça girando
a garganta sentindo
o peito doendo
a carne mole gemendo
tudo indo embora
perdendo
partindo feito água escorrendo
tremendo inteiro tremendo
foi pra casa onde tinha menos que a cama vazia
onde tudo era nada ou quase nada

rupnol na veia
rupnol na veia
valium
dormonid
lexotan
rivotril em mim
rivotril em mim
rupnol na veia
rupnol na veia
rivotril em mim
rupnol na veia

totalmente dormido
o corpo
ainda sente
a fúria do amor ausente
dormido não,
dormente
meu corpo "irmão burro"
penitente
persiste
levanta
abandona a cama
meu corpo não respeita ordens
solto
independente
procura a chama
a chama não ascende
não ilumina
esquece a chama
inala o gáz
mais, quero mais
vedo todas as passagens
mais, bem mais

o sono retorna
o gáz me derrama
feito leite quando entorna
no chão da cozinha
meu corpo se esparrama

acordou no meio de uma encruzilhada
olhos arregalados
não lembrava absolutamente nada
na boca a língua melada denunciava
prenunciava
mas tentando entender se aquilo era morte ou não
pensava
não parava o pensamento em nada
seu corpo não doía
estava leve
levitava
olhou cada placa por onde passava tentando se localizar
no reflexo do vidro do carro no momento da freiada
viu seu rosto apavorado
pronto pra ser atropelado
entendeu que estava vivo
sentou no meio-fio
e começou a chorar

domingo, 18 de abril de 2010

AOS MENINOS E MENINAS

não se preocupem com o mal-estar causado
deixem a maçã caramelada cair na cabeça de qualquer um

não se preocupem em fechar as pernas
percam o controle dos movimentos
esqueçam todos os juramentos

riam alto se der vontade
observem a paisagem antes do próximo giro
mas coloquem tudo pra fora
sem pensar nos que gritam em sua direção.

ocupem seu espaço exato no parque de diversão

moças elegantes
em rodas-gigantes
também vomitam

sexta-feira, 16 de abril de 2010

SUBURBANO CURTUME

 vai mover os móveis

em busca dos perdidos

abrir armários

revirar gavetas

quebrar cristais

se cortar com vidros?


mulher de carne e sal

em farrapos

se pendura no varal

pra secar a alma

depois de tanto chorar

terça-feira, 13 de abril de 2010

mulambo

num quanto qualquer da cidade
manchada pela chuva
enlameada
a menina bêbada dançava
incendiava
todos os movimentos
descalça
esquecia dentro do pé
o caco de vidro que cortava
a chuva caía
a bebida encharcava
não havia lágrima ou expressão
que denunciasse a dor profunda

flor dilacerada

oxum iluminada
ancestral materializada
ave noturna
oxorongá transformada em gente
não parava com o fim da música
não amanhecia quando a noite ordenava

cinco da madrugada
são paulo iluminada
luz da paulista
vida inventada
caminha desorientada

linda essa cidade!
concreta
armada
lindas essas encruzilhadas!
armadilhas
moradas

garoa não
chuva enlameada
onibus
buzina
freiada
ela parada
esperando na garganta
o grito
o vomito
a mamada
na augusta
augusta estrada
cabeça leonina
juba negra
coroa cacheada

seus cachos se destacavam entre os cortes tortos
e os pensamentos retos
caracol de pensamentos
a vontade de ficar e a saudade de partir
e assentar em outro canto o que não coube aqui
não houve espaço, tempo , nada
que deixasse a menina se estabelecer
pensou que precisava se estabelecer
virou mais um gole de cachaça barata
cambaleou
vui o chão lentamente se aproximar
até doer e avermelhar

segunda-feira, 12 de abril de 2010

ebó

bebo mais
porque a cabeça sóbria
é pura mandinga
trazendo você

domingo, 11 de abril de 2010

BOLERO

num tempo de silêncio entre pontos de palavras
a pausa exata era a razão do nosso encontro

passei veloz
quebrei as barreiras
apaguei as fronteiras
e desviei o curso de muitos rios pra poder te encontrar
ficar frente a frente

pedras monolíticas
incólumes
diante da tempestade de olhares agudos de terror
ao perceberem que o amor sempre esteve ali em segredo
e agora batucava, cantava, rodopiava
seguro do equilíbrio
dançando entre as pernas esticadas sedentas pelo tropeço

mestre-sala
capoeira
cantor de cabaret
brilho barato
purpurina
gota d'agua na retina
era tudo isso

cauby cantando pela última vez
o cantor e a voz
apenas
essa comunhão

cigarra esperando a morte
grita amor, grita mais forte

eu sei que não vamos parar
sou a bala do revólver da mulher apaixonada que deseja morar no seu coração

grita amor, grita

sol morrendo deixa mais bonito o morro dois irmãos

grita amor, canta
desafina pra eu aplaudir

vamos existir pro mundo
ser lembrança quando tudo acabar
a maré encher
o rio inundar
a cidade escorrer
a terra tremer
a bomba explodir
e a barata sobrar

NÓS

aves mortas
me fazem sonhar com vôos mais altos

quero as ilhas mais distantes

pontos desconhecidos do globo

e ao chegar lá
lembrarei do vôo impossível
sonhado por nós

tango

me livre da sua cobrança
das suas armas
tiro, facada, lança

estou entre a onda e a espuma

não vê que sou leve
frágil?
que morro fácil?

morro em ti desde já
não puxe o gatilho pois a bala volta
meu amor
volta sem você suspeitar

morro aqui
pare de me procurar

aproveite
o corpo ferido
o peito aberto
beba o sangue escorrido

arranque meu couro
faça bandeira
pegue os restos
acenda fogueira
e ilumine suas noites sem luar

carnaval

prencher esses espaços com paetes
cobrir até o gargalo
de plumas
trans
bordar
as fantazias
de fitas e babados
e no final
estar nu ao seu lado

quaresma

nesse caso nada salva o fim do carnaval
uma triteza, fina, diáfana
ligando nossos olhares
que pouco tem a dizer
sua mágoa me afoga
você manda um sorriso de criança manhosa
armadilha
serpente sinuosa
seu feitiço me enrosca
mas aguarde o meu toque
nem house nem rock
exu vai girar quando aleluia eu gritar

CANÇÃO

embora deseje o clássico bach
meu coração dança
o bolero mais cafona
da gafieira mais ordinária
na madrugada mais comum
de uma data qualquer

ELEGBARA

o som do giro
pés no ar e no chão
minha cabeça é sua
todo "povo de rua"
forma estranha procissão
sou o templo pagão
sou a noite desesperada
exu, egun, alma penada
sou festa e enterro da morte
cruzeiro e encruzilhada