terça-feira, 13 de abril de 2010

mulambo

num quanto qualquer da cidade
manchada pela chuva
enlameada
a menina bêbada dançava
incendiava
todos os movimentos
descalça
esquecia dentro do pé
o caco de vidro que cortava
a chuva caía
a bebida encharcava
não havia lágrima ou expressão
que denunciasse a dor profunda

flor dilacerada

oxum iluminada
ancestral materializada
ave noturna
oxorongá transformada em gente
não parava com o fim da música
não amanhecia quando a noite ordenava

cinco da madrugada
são paulo iluminada
luz da paulista
vida inventada
caminha desorientada

linda essa cidade!
concreta
armada
lindas essas encruzilhadas!
armadilhas
moradas

garoa não
chuva enlameada
onibus
buzina
freiada
ela parada
esperando na garganta
o grito
o vomito
a mamada
na augusta
augusta estrada
cabeça leonina
juba negra
coroa cacheada

seus cachos se destacavam entre os cortes tortos
e os pensamentos retos
caracol de pensamentos
a vontade de ficar e a saudade de partir
e assentar em outro canto o que não coube aqui
não houve espaço, tempo , nada
que deixasse a menina se estabelecer
pensou que precisava se estabelecer
virou mais um gole de cachaça barata
cambaleou
vui o chão lentamente se aproximar
até doer e avermelhar

Um comentário: