segunda-feira, 19 de abril de 2010

RUPNOL NA VEIA, RIVOTRIL EM MIM (o último romântico)

pediu mais uma garrafa de cerveja
bebeu num gole só
pediu outra
bebeu numa sede alcóolatra de quem foi abandonado
gastou o que não tinha
arrancou do bolso as moedas do mercado
subiu o morro animado
continuou até o bolso não aguentar

a cabeça girando
a garganta sentindo
o peito doendo
a carne mole gemendo
tudo indo embora
perdendo
partindo feito água escorrendo
tremendo inteiro tremendo
foi pra casa onde tinha menos que a cama vazia
onde tudo era nada ou quase nada

rupnol na veia
rupnol na veia
valium
dormonid
lexotan
rivotril em mim
rivotril em mim
rupnol na veia
rupnol na veia
rivotril em mim
rupnol na veia

totalmente dormido
o corpo
ainda sente
a fúria do amor ausente
dormido não,
dormente
meu corpo "irmão burro"
penitente
persiste
levanta
abandona a cama
meu corpo não respeita ordens
solto
independente
procura a chama
a chama não ascende
não ilumina
esquece a chama
inala o gáz
mais, quero mais
vedo todas as passagens
mais, bem mais

o sono retorna
o gáz me derrama
feito leite quando entorna
no chão da cozinha
meu corpo se esparrama

acordou no meio de uma encruzilhada
olhos arregalados
não lembrava absolutamente nada
na boca a língua melada denunciava
prenunciava
mas tentando entender se aquilo era morte ou não
pensava
não parava o pensamento em nada
seu corpo não doía
estava leve
levitava
olhou cada placa por onde passava tentando se localizar
no reflexo do vidro do carro no momento da freiada
viu seu rosto apavorado
pronto pra ser atropelado
entendeu que estava vivo
sentou no meio-fio
e começou a chorar

2 comentários:

  1. ai que deprêêê!!!!!!!
    LINDO!!!
    olhe pro dois lados ao atravessar!

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  2. Choradeira de lavar os olhos o suficiente para poder ver o depois, ver tudo que vem depois!

    Tô gostando muito ler tudo isso
    bj imenso cheio de saudades do menino marrom
    lara

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